segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O CALDINHO DE ALFACE DA MINHA TIA MARIANA

Hoje falo dos velhos, que também já foram novos, embora não pareça. Hoje falo dos velhos, de alguns velhos, da minha vida. Sim porque os velhos, que já foram novos, e que agora são velhos, por culpa do tempo, fizeram de mim uma boa pessoa, não demasiado boa, evito sempre ser uma boa pessoa, porque as pessoas boas fogem da nossa convivência demasiado cedo, como os velhos da minha vida. E os velhos são inconvenientes por causa disto, fogem da nossa convivência, deixando o peso do mundo e das responsabilidades sobre os nossos ombros, é típico deles, é uma coisa irritante. E quando precisamos de um conselho, que aliás eles já nos tinha dado, mas nós nem percebemos, já não estão por perto. E é nessa altura que sentimos a falta que eles nos fazem, os nossos velhos. É nessa altura que sentimos falta das histórias, das suas histórias, dos conselhos em jeito de reprimenda, do seu saber e do seu carinho. É que ao contrário desta gente que acha que ainda é nova, os nossos velhos têm sempre tempo para nós, estão sempre à nossa espera, é incrível, é só meter a mão ao postigo para abrir a porta - porque as portas dos velhos estão sempre abertas para quem vêm (às vezes demais) - que lá estão eles(elas), com se nos esperassem há uma eternidade, prontos para receber um abraço, e partilharem o que têm, a sua velhice e o tempo que lhes sobra, connosco.
Mas por um destes dias, até fui uma boa pessoa. Entrei numa casinha humilde de uma das minha velhinhas, e ela lá estava à minha espera, com se adivinhasse a minha chegada, no lume tinha um tachinho, que não levava mais de meio litro de água, onde bailavam uma posta de raia e um ovo, entrelaçados a pequenas tiras de alface e uma fininhas rodelas de batata, aquelas comidas que só os velhos sabem fazer, e disse-me: "Hoje comes com a tia..."; Nem me deu tempo de ripostar, entre a habitual conversa, coisas que são importantes na vida dos velhos, como seja, o nosso bem estar, deitou mais um poucochinho de água e umas pedrinhas de sal, migamos umas sopinhas, repartimos a pequena posta de peixe e o ovos e eu... almocei com a minha tia Mariana, um caldinho de alface.
Garanto que me alimentou, o corpo e a alma....
E fiquei contente, porque ainda tenho alguns velhos na minha vida!

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